sexta-feira, 22 de junho de 2012

LIBERDADE DE PRESSÃO

(Artigo de Manuela Moura Guedes ,CManhã/22.06.2012)


"Ainda tive um bocadinho de esperança de estar enganada. E até gostaria de poder fazer um acto de contrição por causa de tudo o que escrevi sobre o caso ERC/ /Relvas/Público, se não se tivesse passado exactamente a palhaçada que antecipei há umas semanas.
A Suma Entidade Reguladora para a Comunicação Social veio, mais uma vez, mostrar que apenas serve para lavar a imagem dos políticos a quem serve e na razão proporcional à sua constituição. Os dois elementos do PSD votaram a favor de Relvas, os dois do PS votaram contra e o Presidente desempatou a favor do Poder, claro, como é (seu) costume. A amiga pessoal do ministro, Raquel Alexandra, achou que não havia qualquer impedimento para analisar e deliberar sobre o caso, e Carlos Magno que houve "uma pressão inaceitável, mas não ilícita". Ou seja, a ERC divide as pressões feitas sobre os jornalistas pelo ministro que tutela a Comunicação Social em aceitáveis e não aceitáveis. O que quer dizer que legitima pressões. Mas que critério usará para as distinguir? Serem em tom mais ou menos exaltado? Com voz doce?

O mais curioso é que "as inaceitáveis", pelos vistos, são tão aceites como quaisquer outras. E nenhumas deviam ser. Se de cada vez que houvesse uma pressão por parte de um político o jornalista a denunciasse, as coisas seriam bem diferentes, há já muito tempo. O problema é que não há uma cultura de jornalismo contrapoder enraizada em Portugal. Pelo contrário.

Há uma enorme facilidade de ajustes editoriais sempre que há mudanças políticas e uma terrível promiscuidade entre políticos e jornalistas. Obtêm-se ‘fontes’ aceitando terríveis condições, vende-se a alma ao Diabo pa-ra segurar outras, não se chateia muito para se ter entrevistados que se dão ao luxo de escolher quem os entrevista, fica-se fascinado por ter amiguinhos políticos e dá jeito... há sempre uma ERC, uma assessoria ou o que quer que seja a cair do céu, pela prestação de bons serviços... Mas também há vítimas, como a jornalista do ‘Público’ que teve o descaramento de fazer perguntas de que o ministro não gostou. Demitiu--se e está no desemprego porque, em Portugal, mesmo "as pressões inaceitáveis" não fazem cair ministros e a vida está para os Relvas".

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