domingo, 18 de dezembro de 2011

A MORTE DO NATAL



Abaixo transcrevo um artigo (A morte do natal) de Henrique Raposo , publicado no jornal Expresso de 17/12/2011, onde se conclui que os valores humanos já nada dizem a certas pessoas:

" Eu adoro quarentonas, sobretudo quando são mães. Além de usufruir da estética balzaquiana ( a minha palavra preferida), aprendo sempre novas noções de moral. A mãe modernaça é um ser muito instrutivo. Ainda há dias,num velório,uma destas progenitoras pós-moderninhas ofereceu uma homérica lição de vida aos presentes. Foi uma espécie de catequese, mas ao contrário. Encostada à parede da capela, ela declarou " não podia trazer a criança " para um sítio daqueles.Pouco depois percebi que a " criança " tem 15 anos e que , ora essa , " leva o namorado lá para casa ". Confesso que a minha cabeça sofreu uma rutura kantiana. Aquela luminosa mãe acha normal que a filha de 15 anos tenha sexo , mas já não acha bem que a mesma filha frequente capelas e velórios, sítios e práticas de infame notoriedade , como se sabe.

O mundo seria tão mais cinzento sem estas mães modernaças. Juro que nunca mais vou ver o mundo da mesma forma. Sim, uma jovem de 15 anos deve ir para a cama com o namorado, mas já não deve ir , coitadinha , a um funeral. Porque é triste. Porque é pesado . " Porque é puxado" . Sexo ? Logo aos 15 anos, se faz favor. Funerais? Só aos 30 anos. E, já agora, também não podemos levar as " crianças " de 15 anos aos cemitérios. Porque, de facto, " é muito puxado " tratar da campa de alguém. Os defuntos são uns grandes chatinhos, é o que é. E os doentes também, diga-se.Não devemos levar as nossas Lindas Lovelace de 15 anos ao hospital. As crianças não devem ver o avô naquela cama, naquela derrota hospitalar. Porquê? Porque as nossas lindas Lolitas devem pensar que a morte e a doença não são inevitáveis.

No fundo, devemos viver no pressuposto de que a morte depende apenas da nossa vontade. Sim, a morte é como o sexo: só depende da nossa vontadinha. E ela é tanta , meu deus, sobretudo quando temos pela frente uma balzaquiana a distribuir epifanias kantianas como esta. Amén.

Confesso que estou fascinado. Confesso que fui revolucionado. Quando chegar a minha altura, juro que seguirei o derradeiro desta mãe: a minha Cicciolina de 15 anos também passará a consoada numa discoteca. Família? Isso era antigamente. O convívio com os avós pode levar as crianças a pensar em coisas puxadas como a doença ou a morte. Ou, então, até podem começar a fazer perguntas sobre aquele sujeitinho que nasceu a 25 de Dezembro. Portanto, há que deixá-las ir, com um barretinho de pai natal, para a discoteca mais próxima. " Porque elas ali estão seguras, não é?". Claro que sim. Seguríssimas".

Nota do blogue
: Depois dos sucessivos governos nos terem tirado os bens materiais, também estamos a perder os valores humanos , como se pode concluir do artigo acima publicado. Lamento profundamente.

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